6 de jan. de 2008

Todas as fotos deste post são do incrível Fosforeto


O sol tem se posto só depois de 19:30 no Rio. Assim, nesta sexta-feira, quem ia em direção à Sala Baden Powell para o primeiro dia de Humaitá Pra Peixe tinha que disputar as calçadas com gente saída da praia, andando só de roupa de banho pelas ruas: ah, Copacabana!

Dentro da Sala, o ambiente era tão carioca quanto fora. Era noite de Roberta Sá no Humaitá Pra Peixe e, às 20:50, as mais de 500 pessoas que lotavam o auditório aplaudiram o começo do show. Abrindo a apresentação, a mesma música que abre "Que Belo Estranho Dia Para Se Ter Alegria", o elogiado segundo disco de Roberta, lançado no final de 2007. Composta pela revelação da MPB pernambucana Junio Barreto (com Jam da Silva), “O Pedido” criou um momento impactante no começo do show, com suas referências macumbeiras.



Essa força só voltaria no final da apresentação, quando Roberta abriu um momento “samba”. Nesse bloco, “Samba de Amor E Ódio” (de Pedro Luís e Carlos Rennó: “erra quem sonha com a paz mas sem a guerra”), que deu uma necessária injeção de ânimo na apresentação. Espremidas entre as cadeiras e os corredores da Baden Powell, poucas pessoas arriscavam sambar, a ilha central do teatro virando uma inusitada passarela. No balcão, meninas de vestido florido (como o de Roberta), tentavam palmas e algumas evoluções, acompanhando músicas como o frevo “Fogo e Gasolina” e o samba de roda “Girando Na Renda”, ponto alto do show, as palmas de todo o teatro marcando o ritmo.

Mas a maior parte da apresentação foi mesmo como versa Lula Queiroga em “Belo Estranho Dia De Amanhã”, que apareceu na metade do show: um tempo romântico, calmo, onde as preocupações cotidianas desaparecem (“vai ter mais tempo pra gente ficar junto”, “os políticos amanhecerão sem voz”). Entre bossas e sambas amenos, “A Vizinha do Lado”, de Dorival Caymmi - a música que revelou Roberta Sá, ao ser incluída na trilha da novela global “Celebridade” – foi cantada em coro. Já “Casa Pré-Fabricada”, do hermano Marcelo Camelo, não ganhou um coral, mas foi cantada de olhos fechados e cara emocionada pela menina de cabelos longos presos como os de Roberta que estava sentada no balcão – uma das imagens mais explicativas do show.





Pouco depois do show, no camarim, a maquiagem do palco ainda no rosto, Roberta Sá respondeu a algumas perguntas para o AA (é “Arquivo Acosta”, caso você ainda esteja se acostumando); mas só depois de atender a inúmeros pedidos de fotos com os fãs.

_Acosta diz: Que tal essa participação no Humaitá Pra Peixe?
_Roberta diz: Foi maravilhoso! O público de festival é um público especial, que está aqui procurando novidade. Eu me sinto lisonjeada de participar de um festival tão bem-sucedido.

_Acosta diz: Sua música parece ser muito bem recebida por pessoas bastante diferentes. Há uma preocupação em fazer um som que seja acessível?
_Roberta diz: Não. Eu faço a música que eu gosto de ouvir. Acho que a música tem que primeiro alcançar você, para depois alcançar o público.



_Acosta diz: Acho que foi Bruno Levinson (organizador do HPP) que disse numa entrevista que esse era o ano para você tocar no festival, que ano que vem você já vai ser “grande demais” para o Humaitá. Concorda? O que vai acontecer com a sua carreira em 2008?
_Roberta diz: (com um sorriso largo) É exagero da parte dele. Eu não tenho bola de cristal, mas espero fazer muito show. Já está acontecendo, eu devo ir para Salvador e Recife por agora.

_Acosta diz: Você é freqüentemente apontada como símbolo da nova música carioca, da nova geração carioca. O que é ter 20 e poucos anos no Rio hoje? (Roberta tem 27)
_Roberta diz: É ter acesso a muita cultura de qualidade, música de primeira. Mas ao mesmo tempo se preocupar com a hora de voltar pra casa, por causa da violência. E eu acho que esse é o maior feito da Lapa, tudo lá rola na maior paz.

_Acosta diz: Em alguns momentos, você parece bastante preocupada com a situação das coisas, questões como violência e política. Mas, como na canção do Lula Queiroga, isso tudo acaba ficando em segundo plano na sua música. Por quê?
_Roberta diz: Olha, está tudo tão difícil que, se for cantar só as misérias, não há quem agüente. Música é pra deixar a gente leve também.




+ No site de Roberta Sá, é possível ouvir todas as músicas de seus dois discos, além de ler as letras e cifras. É só clicar no nome dela neste texto, e pronto!

+ Havia muitos velhinhos na platéia, aquela população típica de Copacabana. É piada pronta, mas tentei falar com quatro deles e não consegui: eles não me ouviam! Na quinta tentativa, falei com Esther, de 79 anos (foto abaixo). Ela disse que tinha gostado muito do show de Roberta, que sempre ia aos espetáculos da Sala Baden Powell e que pretendia voltar para outros shows do Humaitá Pra Peixe, mesmo sabendo que havia bandas de rock na programação: “eu ouço de tudo!”, arrasou.



+ Por quatro reais, dá pra provar um drink (?) feito à base do produto de um dos patrocinadores do Humaitá Pra Peixe 2008: Toddy. Um deles? Toddy Frozen Crazy, com Toddy, leite de coco, creme de leite e gelo. Não vi ninguém provando. E também não pretendo experimentar porque não sou a Glória Maria nem o Zeca Camargo.

+ Também se apresentou na primeira noite de Humaitá Pra Peixe o cantor e compositor Raphael Gemal.

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