23 de abr. de 2007

Enviado a Senhor F, 22 de março.

Fora do Eixo, dia 4: Pública e Vanguart no Vegas

*Pedro Acosta

Em sua quarta noite, o Festival Fora do Eixo encontrou o ouro. Seja no dourado que domina a entrada do clube Vegas, ou no grande comparecimento do público. O Vegas fica na clássica Rua Augusta e quinta-feira é um dia tradicionalmente movimentado. Tanto na rua quanto no clube. Nesse dia da semana, a casa promove a festa Rockafellas, com imenso sucesso. Assim, Pública (RS) e Vanguart (MT, agora morando em São Paulo) se apresentaram dentro de uma noite “Rockafellas especial Festival Fora do Eixo”.

De qualquer forma, o público lotou o lugar. Suas caprichadas roupas em concordância com a decoração rococó do local. Cheio de luzes neon e lustres aparentando suntuosidade, o Vegas é bem sucedido no esforço de remeter à cidade que lhe dá nome, como também remete a um bordel. No fim, todo o aparato inspira mais a lançar-se numa pista de dança, como alguns fizeram. No andar inferior, durante toda a noite, DJ’s tocavam rock em remixes e o que se tem chamado new rave.

Pública

Os cinco integrantes do Pública se espremem em cima do palco enquanto o público se esbarra na pista. O show foi atrasado até depois de 1:00 e agora a platéia está cheia e ansiosa. Uma massa sonora confusa é projetada pelo equipamento no início da apresentação. Mas progressivamente as coisas se acertam e a melancolia sessentista do grupo se revela.

Levadas pela batida de teclado de “Long Plays”, as cabeças meneiam pelo salão. “Já comprei todos long plays dos artistas que você sempre gostou, mas mesmo assim estou só”. Ao ouvir versos assim, a menina de blusa estampada em preto e branco faz um sinal de “fofo” com as mãos.

Com “Bicicleta” aparecendo no repertório – seu nome podendo ser referência tanto ao veículo quanto a uma variedade de ácido lisérgico – o show ruma à psicodelia. Tal jornada explode no número final, “Luzes”.

Como se tivessem cansado do aperto do palco, baixista e guitarrista solo duelam abaixo dele, viajando por texturas e momentos. Por toda parte, há lâmpadas piscando freneticamente no Vegas. O mesmo frenesi se espalha pela pista, onde público, fotógrafos e cinegrafista tentam não esbarrar nos músicos, se esforçam para não interromper o momento.

Vanguart

Lá pelo meio do show: “agora vou cantar umas músicas novas, umas coisas de amor, umas bobagens. Não precisa gostar.” Tendo todas as atenções para si, Helio, vocalista do Vanguart, anuncia assim um grupo de músicas em português que devem estar presentes no vindouro disco. De acordo com a banda, o álbum já está gravado. Segue a pós-bossa nova de “Enquanto Isso na Lanchonete”. As luzes piscando sem frear e o som dançante que escapa da pista inferior lhe são hostis.

A próxima é “Para Abrir os Olhos”. Sobre um country suave, Helio conta que está há noventa dias em seu barco à vela, mas que não se sente tão sozinho por ter seus amigos: “só aparecem quando eu bebo”. E o que mais ele tem a dizer sobre seus amigos?

Logo nos primeiros acordes, “Semáforo” é saudada com uivos. Um coro tímido aparece no refrão. Mas a platéia explode mesmo quando Helio fala, no fim da canção, do que agora parece ser seu assunto favorito: “todos meus amigos... (gritos histéricos, uivos) querem... morrer!”

Uma vez acabado o caos de guitarra que marca o fim de “Semáforo”, ainda há espaço para uma versão de “I Will Survive” (do repertório de Gloria Gaynor), tão disco quando a original; alguns clássicos da banda; uma versão para “Outlaw Blues” (Bob Dylan). Ao fim, Helio está ajoelhado no palco, deslizando violentamente sua mão pelo braço do violão. O rapaz de camiseta preta debruçado sobre o palco imita chamas com as mãos. No telão, Johnny Cash aparece.

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